sempre há outras palavras. na calçada, uma caneca preta. na fala, uma dose certa. na espera, uma saudade de casa.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
saia meia coxa, blusa solta, costa nua
Ela derepente entrou em casa apavorada. Suporta alguma dor. sangravam os dentes, o nariz. Diz qualquer palavra. Apavorada. Trancada no banheiro. Chuveiro ligado. Água gelada sobre o corpo. Cabelo solto. Algum sangue escorria com a água para o ralo. Foi violentada. Forçada por três caras. Saia meia coxa. Blusa solta. Costa nua. Sua, com um calor às duas da tarde. Sabe de alguém que lhe segue. Apressa os passos. Sapatos de salto. Os olhos arregalam. A voz treme, o medo sobe do estômago — diafragma — garganta. Não passa. Fica entre a laringe e o início da língua. Pensa em algum lugar para entrar. Um abrigo. Olha todos os lados. O beco. O prédio antigo. O cinema. O parque. Parte do fim da rua. Suam as mãos. A palmilha dos pés escorregando sobre o couro dos sapatos. olhou pra trás não viu mais ninguém. Olhou de novo. De novo. Cessou os passos e olhou de novo. De novo. Não quis esperar e atravessou a rua. Entrou no prédio antigo quase angustiada. Decepcionada. Prédio abandonado. Penumbroso e convidativo. — Psiu! Estava à toa. — Alguém aqui? Pergunta e soa trêmula a voz. As mãos a deslizarem na parede suja. — Quero ajuda! Ela percebe alguém. Cessa os passos. Saltos altos. Outro cara aparece. — Tá procurando o que aqui dona? — Nada... Dá-lhe as costas e caminha rápido pra saída. Na saída outro cara chega e encosta. — O que vocês querem? Ela pergunta segurando a bolsa contra o peito e deslizando o zíper que a abre. — Estou armada, deixe-me passar! — Não tamo fazendo nada dona? O homem da porta entra com passos curtos e lentos. Tempo pouco pra tentar sair. Mais um outro chega na porta, o que lhe seguia lá fora. Ela se desesperou. Jogou-lhe a bolsa na cara. Ousa correr. O do meio agarra-lhe pelo braço. — Me deixem!! Eles rasgam-na a blusa. Ela morde. Morde e dá pontapés. Um deles a espanca na cara. — Mobiliza a dona!! Bate mais na cara dela!! Põe a blusa na boca dela!! — Come essa safada!! — Dá na cara dela!! — Come essa safada!! Vira ela! Bate na bunda dela! — Piranha!! — Ela tá gostando! Ela tá gostando!! Gostando....!Se foi um. Depois outro. O último.Sobre o chão:Ela sorriu. Surrada e exausta.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário