sexta-feira, 17 de setembro de 2010

caça

você me laça. passa pra me devorar. ata. agora só passa quando você chegar. não demora porque minha derme implora. e busca. caça.

sábado, 11 de setembro de 2010

você vem?

fome de ir embora. agora me devora a alma. enjaula a presa. certeza que vou definhar a cada segundo. estou no profundo que implora e chora.

o céu está tão estrelado que dá vontade de morder, arrancar um pedaço com a boca. e parece estar molhado como brilho de poça. a noite está solta.

também está frio como pele de louça. ouça da noite pouca coisa. aqui em terras frias as vias padecem. parecem felizes por alguém. você vem?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

tristeza nº0

sobrei em todos os pedaços como se sangrassem os cacos. parti pro andar debaixo das ilusões. sons. canções. sansões. paixões que nem servem

há escuridão. mar. escuridão solar. coube no momento de estar só e na aventura de sonhar. causou meu medo de ser sempre um nó a atar.

não há laços. só pedaços. espaços vazios. frio de imensidão tamanho. chama meu nome sem me acordar.

estou chovendo por dentro. chovendo como num intento de se afogar. invento de beijos, céus e desejos. um vento de se levar. para lá. para lá.

tristeza em forma de palavra. alguém sabe de alguma?

tristeza nº1

não acabou a transgressão do céu. não acabou metade mim. estou cinzento-escuro. puro em sofrimento. acimentado de cabeça pra baixo.

um ano inteiro de choro alto cabe no mar do quintal de casa. setembro pena nas mãos do desejo. asa aberta, tempo firme pra vôo.

é um azul assim do avermelhado. um agrado sangrado na pele do céu. conheço esses azulejos que escorregam sem tocar.

o choro cresce? merece um choro alto? ataco sua saudade. das paredes a lembrança. do presente um retrato. você viu?

já é noite como quando o despertador não toca. sufoca aqui um cheiro amargo. estou espalhado demais pra me juntar. desamarrado.

parece. tece por inteira. solidão não mastiga. castiga o céu da boca. sem saliva, beijo, estocadas. não-estancada.

você sabia da minha tristeza? da beleza da minha tristeza? ainda tem tempo de me deter à teia. ainda está na minha veia. veja.

não gosto da saudade. gosto da maldade do agora. do cárcere perverso do prazer da cólera. estive feliz e pólvora povoa a língua por hora.

abri a caixa de bombom. se foi bom duas dúzias à marrom. saudade do tempo do som da ilusão. eu me enchia de bons motivos. estava são. são.

estou explosivo como um abismo. estou num intenso neologismo visceral. se mal soubesse de mim, nem me largaria à beira-mar. afogar. afogar.

o poeta sabe de si mesmo. de sua mesmice melancólica. das cólicas de amor. das dobras do fim do outono/inverno. inferno é saber tanto assim.

tristeza nº2

abraço sem lado oposto. louco de vontade. pela metade. querendo essa parte agora, a outra amanhã. de manhã, no café, no gosto da sua boca.

poucas horas para dormir. sobreviver sob o céu cinzento. quem vai adormecer no silêncio da solidão prefere um cobertor quente sobre a cama.

tristeza não passa. saca a arma e me acerta em alvo. tamanho gigante. sou eu diante do medo de me sentir só e consciente.

pena de ti que não me vê sozinho. pobre de mim que ainda busca teu olhar. prejuízo mansinho, devagarinho a alvejar. papapapapá.

o bem não cabe em mim. não cabe assim tão fácil. sou eu em desesperança. portátil. volátil. febril. não cabe o mal a mim assim cheio de amor.

tristeza nº3

não cabe o fim aqui. estrada. palavra. cor. sou eu desbotando sob o sol em desamor. no fim não cabe o mal. sal. suor. calor. quem de nós?

seu silêncio corrói os meus zelos. selos postais em fina dor. viajo aqui dentro dessas cartas extintas de papiro. prefiro aquilo de ser ator.

será que prefiro? será que é delírio de amor? será que suplico apenas um começo? será que estou inteiro demais pra você? exagero verdadeiro.

hora da fome do meio dia. é metade. é saudade inteira. é uma grande maldade deixar essa parte assim pela metade. xequemate.

tristeza nº4

estou em pauta poética. cética de estar bem. quando estou assim, estou mórbido, sórdido, perverso. desejando roubar a alma de alguém.

sexo. testo seu esperto sentido. sigilo. ligado e preciso. estou bíblico e preciso de castigo. vertígio é encontrar meu íntimo suspiro. você vem?

nem só fome. nem só some a tua presença. mas ainda muito resta e sobra e apavora, devora meu estado. estou na estadia da má-sorte arrebatado.

tristeza nº 5

cai a noite e agora a tristeza é mais severa. eu era da capital e já era. nem beijos nem mazelas. espera um dia entender de viver sem você.

desde ontem minha voz está no esquerdo de mim. enviezada. organizada nos textos. um pretexto perfeito pra te apaixonar. ou é melhor calar?

nem meu silêncio coube em mim. eu grito, esperneio, velejo no beijo do meu desejo. nem vejo, nem vejo você. cego. legolego pra sonhar.