quarta-feira, 8 de outubro de 2008

doença de sexo

ele é doente. tem doença de sexo. de sexo frágil. de não se dar conta do perigo. uma doença de sexo que não se trata com remédios. nem com bulas psicoterapeutas. sabe do que se trata doença de sexo? de instinto. de bicho. de um estado de sítio? o corpo sitiado. o sexo motivado. motivado. tivado. vado. vado. vado.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

e da janela de casa é mata

e da janela de casa não vi pessoas. só um verde. uma sede de vida. e da janela de casa é mata. parte de mangue. a outra face do sangue venoso do recife sujo. cê vê o verde? ainda sobra. a imagem da janela é apenas fragmento. e sobra. transborda ainda ao redor.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

amy

foi uma lágrima congelada no olhar. foi a amy. deprimente. ausente dela mesma. eita amy. volta amy. fica em casa. canta para a gente dormir. mas ela não dorme. não dorme. nem torce por ninguém. e vejo a lágrima congelada no olhar. e quero não ver a amy. alcoolizada. drogada. vestida de prada. despenteada. e voz inal-terada. eita voz amy. eita voz. e nós o que faremos quando se for numa dessas noites de overdose?

domingo, 28 de setembro de 2008

quando elas falam

quando elas falam, não falam. não são de palavras. nem prolixas. nem monossilábicas. elas falam muito quando falam. saltam. faltam a tarde inteira. à noite perdem as estribeiras. são cheias de determinação. e são. são. são elas mesmas. cheiram. roçam. encostam. forçam a barra. passa. passa. aqui não é lugar. lugar. e falam. falam demais. e quando elas falam, não dê bobeira. que elas chegam. chegam. donas da casa e meia.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

sou o dia a mais

estou a um final de semana. a um final de semana. um, eu uno. solidão semântica. final. semana para que? sou o dia a mais.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

o risco da felicidade

Vê o risco de felicidade no céu? Vê? Ta ali no céu como quando a gente risca o ar com o dedo. E some. Some. Some como a tua presença. E dói. Dói no peito. É o vazio da sua ausência. Que some. Some. Se ausenta. Um risco no céu do teto da sala de casa. Cala. Cala a minha dor.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

apenas corro pra varanda ver

Tapei os ouvidos para não ouvir você arrumar as malas. Inundei os olhos para não ver você submergir e partir. E não fiz mais mesmo que aceitar: o descaso. O auto de mim se desvanecer. E ouvi blunt. E chorei pouco. E fui embora pra cama sozinho. E dormi metade do que costumo. Não fumo. Não encho a cara. Apenas corro pra varanda ver: erros, acertos, seu vazio na sala, no quarto, no banheiro, na cozinha, na hora de dizer estou chegando.

domingo, 21 de setembro de 2008

o menino que nasceu no dia nove de maio

Raio no chão. Árvores. Flores. A casa: foi demolida. Triste dia. Alguns choraram as paredes. Os prendedores de rede. Sede. E chuva também cai. “Sai da chuva, menino!!”, grita Zélia: mãe, doce, meiga, cega, com bengala na mão. Ouviu menino chorar, correr porta adentro. Escuridão, mas aguçado ouvido. Livro em braile São Sebastião e O Banquete de Platão. Numa estante. Na mesa. Em qualquer parte. Arte de encontrar sem poder ver. Datado dia: nove, de algum mês de maio. Alguma carta chegara. O carteiro entrega na porta. Prosa boa com destinos. Toma chuva, corre a outro casebre. Pele molhada e envelopes secos: mais que função. Aquela era uma carta para um dia de maio, se presume, tão cedo. Apelo pra quem se sente só. E só rasga a beirinha. Tira-se as fininhas folhas: algumas páginas. Era mesmo para um dia de maio. E saio contente sob a chuva. Fui demolido também. E fico olhando o “xis” que faz o pingo quando “atrita” com a poça. E volto a olhar a casa, no chão.

sábado, 20 de setembro de 2008

entre outros contos

Alguém abre um livro. Depois de ver a capa. O título. O nome do autor. Não reconhece porque não se conhece sobre qualquer formato aqui. Procura algo novo. Mas, é tudo igual. Não encontra. E há um triz de desistência. Mas alguém intrigado pergunta “o que há com você?” Hesita. Critica as formas. A falta de alguma fama. A trama que leva você comprar o livro. Paga algum dinheiro por ele. Sai da livraria. Depois chega em casa. E algo incomoda. Talvez a porta fechada. O calor. A ausência de brisa. Mas não é. Não é qualquer coisa fácil. Pálido como a luz do dia. Como respirar e não notar que se respira. Alguém escrevera um livro por algum motivo. E alguns. Nem se nota ali depois das horas. Senta-se sobre o sofá. Cama. Chão. Sobre o muro. E talvez não caia. Fique mesmo no mesmo lugar. Depois de tê-lo em mãos. Tão insignificante. Ande! Investigue qualquer coisa: projeto gráfico, traços comuns que se têm em qualquer outro livro, mas não pense que ignorar assim é capaz de diminuir qualquer coisa, porque não é. Também é uma reação e contrária. Deixe-o para as traças comerem. Seja egoísta. Tenha-o pelo prazer de tê-lo. Não diga pra ninguém. Nem xingue. Fique calmo. Qualquer palavra exaltada é perigosa. E não faça perguntas. Alguma pergunta não tem resposta, pode realizar. Ser alguma questão descompromissada com o que vem a ser comentado. Mas você não esqueceu. E isso incomoda. E incomodaria mesmo que não tivesse o trazido pra casa. Agora depois de sabê-lo é tarde demais. Então você pega-o, dentém-o na mão. E começa vê as suas formas. E lê o primeiro conto entre outros contos:

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

lágrimas de saudade de casa

A vida não passa sem que alguém a veja. Era assim que todas as meninas da casa de Dona Santa pensavam. Solteiras, livres e cheias de vidas. Sobre o piso lençóis quentes de noite de suor e sexo com os rapazes da redondeza. Eram muitos. Todos jovens. Gostavam da juventude. Sobre ser visto ou não enquanto em vida tanto se pensou e se jogou na cama: beijos, sandálias, batons claros, olhos em lágrimas de saudade de casa, camisas amassadas e pesadelos. Agora só restam as noites de cortesia. De rapazes bonitos em busca de prazer carnal e delírios intensos com mulheres de vida nada fácil.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

saia meia coxa, blusa solta, costa nua

Ela derepente entrou em casa apavorada. Suporta alguma dor. sangravam os dentes, o nariz. Diz qualquer palavra. Apavorada. Trancada no banheiro. Chuveiro ligado. Água gelada sobre o corpo. Cabelo solto. Algum sangue escorria com a água para o ralo. Foi violentada. Forçada por três caras. Saia meia coxa. Blusa solta. Costa nua. Sua, com um calor às duas da tarde. Sabe de alguém que lhe segue. Apressa os passos. Sapatos de salto. Os olhos arregalam. A voz treme, o medo sobe do estômago — diafragma — garganta. Não passa. Fica entre a laringe e o início da língua. Pensa em algum lugar para entrar. Um abrigo. Olha todos os lados. O beco. O prédio antigo. O cinema. O parque. Parte do fim da rua. Suam as mãos. A palmilha dos pés escorregando sobre o couro dos sapatos. olhou pra trás não viu mais ninguém. Olhou de novo. De novo. Cessou os passos e olhou de novo. De novo. Não quis esperar e atravessou a rua. Entrou no prédio antigo quase angustiada. Decepcionada. Prédio abandonado. Penumbroso e convidativo. — Psiu! Estava à toa. — Alguém aqui? Pergunta e soa trêmula a voz. As mãos a deslizarem na parede suja. — Quero ajuda! Ela percebe alguém. Cessa os passos. Saltos altos. Outro cara aparece. — Tá procurando o que aqui dona? — Nada... Dá-lhe as costas e caminha rápido pra saída. Na saída outro cara chega e encosta. — O que vocês querem? Ela pergunta segurando a bolsa contra o peito e deslizando o zíper que a abre. — Estou armada, deixe-me passar! — Não tamo fazendo nada dona? O homem da porta entra com passos curtos e lentos. Tempo pouco pra tentar sair. Mais um outro chega na porta, o que lhe seguia lá fora. Ela se desesperou. Jogou-lhe a bolsa na cara. Ousa correr. O do meio agarra-lhe pelo braço. — Me deixem!! Eles rasgam-na a blusa. Ela morde. Morde e dá pontapés. Um deles a espanca na cara. — Mobiliza a dona!! Bate mais na cara dela!! Põe a blusa na boca dela!! — Come essa safada!! — Dá na cara dela!! — Come essa safada!! Vira ela! Bate na bunda dela! — Piranha!! — Ela tá gostando! Ela tá gostando!! Gostando....!Se foi um. Depois outro. O último.Sobre o chão:Ela sorriu. Surrada e exausta.