terça-feira, 7 de setembro de 2010

tristeza nº1

não acabou a transgressão do céu. não acabou metade mim. estou cinzento-escuro. puro em sofrimento. acimentado de cabeça pra baixo.

um ano inteiro de choro alto cabe no mar do quintal de casa. setembro pena nas mãos do desejo. asa aberta, tempo firme pra vôo.

é um azul assim do avermelhado. um agrado sangrado na pele do céu. conheço esses azulejos que escorregam sem tocar.

o choro cresce? merece um choro alto? ataco sua saudade. das paredes a lembrança. do presente um retrato. você viu?

já é noite como quando o despertador não toca. sufoca aqui um cheiro amargo. estou espalhado demais pra me juntar. desamarrado.

parece. tece por inteira. solidão não mastiga. castiga o céu da boca. sem saliva, beijo, estocadas. não-estancada.

você sabia da minha tristeza? da beleza da minha tristeza? ainda tem tempo de me deter à teia. ainda está na minha veia. veja.

não gosto da saudade. gosto da maldade do agora. do cárcere perverso do prazer da cólera. estive feliz e pólvora povoa a língua por hora.

abri a caixa de bombom. se foi bom duas dúzias à marrom. saudade do tempo do som da ilusão. eu me enchia de bons motivos. estava são. são.

estou explosivo como um abismo. estou num intenso neologismo visceral. se mal soubesse de mim, nem me largaria à beira-mar. afogar. afogar.

o poeta sabe de si mesmo. de sua mesmice melancólica. das cólicas de amor. das dobras do fim do outono/inverno. inferno é saber tanto assim.

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